Betacismo ou os caminhos de uma língua
Já ouviu falar em betacismo? É um conceito muito interessante que explica uma questão de sotaque e que traduz também a riqueza da História do nosso país e da região onde nos inserimos.
O betacismo, referido normalmente por trocar os “v” pelos “b”, é a designação para um fenómeno linguístico que na prática consiste na pronúncia de todos sons “v” como “b”. Observa-se no norte de Portugal, mas também no castelhano, galego, catalão, no sul de Itália e em algumas regiões do nordeste e do centro-oeste brasileiros.
Dito de uma forma muito genérica, tem a ver com o facto de, no latim, a letra “b” representar a consoante oclusiva bilabial sonora, enquanto que o “v” era uma ortografia alternativa para a letra “u”. O som “v”, tal como o conhecemos hoje, não existia.
Quem é que não reparou já que nas lápides de igrejas antigas a palavra “Deus” aparece escrita como “Devs”, por exemplo? Escrevia-se desta forma, mas lia-se com som “u”.
Na realidade, o alfabeto latino não tinha as letras “j” e “v” – estas foram introduzidas no século XVI para representarem o “i” e o “u” com funções consonânticas.
O galaico-português, com origem no noroeste da península, foi falado durante a Idade Média nas regiões de Portugal e da Galiza e deu origem às línguas galaico-portuguesas, o português e o galego.